DETALHES DE HOJE
Detalhes, cara, detalhes. Está lá no título. O que aconteceu hoje que pode ser importante amanhã? Pois é esse o mote. O amanhã só existe porque existe o hoje. O amanhã sempre é hoje. Só existe na agenda. Como eu não sou muito de seguir agenda, então, amanhã é só um número no calendário.
Muitas coisas que aconteceram hoje não têm importância. A seleção portuguesa de futebol perdeu para a Coreia do Sul: irrelevante. Os uruguaios afirmam que perderam só para desclassificá-los. Irrelevante também. A seleção brasileira de futebol também perdeu hoje, para Camarões. Irrelevante. O futebol mexe com a cabeça e o bolso de milhões de pessoas, mas é totalmente irrelevante. Não me empolga nada. Fui ao mercado comprar verduras para o almoço e as prateleiras estavam vazias. Já é a segunda vez em poucos dias que isso acontece. Isso não é irrelevante, mesmo que seja coincidência, conceito no qual não acredito tanto. Pode ser pelo excesso de chuvas, mas pode ser por desabastecimento geral mesmo. Problemas do ciclo de produção. Detalhe que precisa ser observado mais de perto. Coisas de hoje que podem mudar nosso amanhã, quando ele virar hoje. Tivemos costelinha de porco no almoço e arroz integral com pequi e saladas. O pequi começou a aparecer no mercado. Eram os primeiros da safra e estavam pequenos. Saborosos, no entanto. Parece que o pequi não escasseia em tempos chuvosos. Ou sim? Algo a observar. Agora vamos ao mais importante. Começa com uma pergunta, mas antes preciso contextualizá-la. Sou escritor. As pessoas que me leem gostam das coisas que escrevo. Vendas que é bom, por colocar grana em minha conta bancária, não acontece. Conclusão: sou irrelevante. Ainda. Li uma longa discussão no Facebook, entre músicos dos quais gosto, sobre a irrelevância de muitos músicos geniais, que a nova geração não conhece. E eles chegaram à idosidade, estão morrendo ou morrerão logo, e não deixarão herdeiros para ocuparem seus lugares. Culpa de nosso sistema educacional, que nos ensina a gostar de porcarias culturais? É uma hipótese. Tive também uma conversa longa com um amigo escritor sobre isso. Uma reunião na Internet, no Youtube, sobre a importância da literatura brasileira na lusofonia, contava com a presença de cinco escritores de vários países lusofônicos, entre eles Mia Couto, Agualusa e Djamila. Caralho, essas pessoas são PHODAS, com PH. E havia pouco mais de setenta pessoas assistindo. Nós também fazemos nossas reuniões virtuais sobre nossas escritas e geralmente temos dez a vinte pessoas na plateia, ao vivo. Irrelevância total. Exatamente em meio a esse turbilhão de acontecimentos que me conduzem a pensamentos diferenciados, comecei a assistir e prestar atenção em um programa nas redes sociais sobre a arte contemporânea. E daí? O apresentador afirmava que o conhecimento adquirido através do estudo da Arte Contemporânea pode nos tornar pessoas mais relevantes. Usou a mesma palavra, relevância. Então fazer o quê para me tornar uma pessoa relevante, embora idosa? Coloquei em meus pensamentos que não há idade para isso. O tempo não existe. É apenas um número nos relógios digitais. Ou na tela de meu aparelho de telefone tipo smartphone. Dei início, então, sem mais perda de tempo, em traçar planos para me tornar uma pessoa relevante. Que escreve livros que vendam, que tem ideias que vendam. Que a arte contemporânea salve minha vida. E agora, PC Ventura? Que fazer para tornar-se relevante? Esmiuçarei mais meus planos nos próximos dias e os colocarei em prática. Tem por princípio fazer diferente, escrever diferente, expor diferente, contar diferente. Sair do lugar-comum. Para isso preciso sentir diferente. E ser diferente. Paulo Cezar S. Ventura (@paulocezarsventura - https://cronicasdamaturidade.blogspot.com)
Paulo Cezar S Ventura
Enviado por Paulo Cezar S Ventura em 02/12/2022
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